domingo, 21 de abril de 2013
FORÇAS POSITIVAS E NEGATIVAS
FORÇAS POSITIVAS E NEGATIVAS
O NOSSO espírito está expelindo constantemente a sua própria força e recebendo, ao mesmo tempo, do exterior algumas das qualidades produzidas por essa força, assim como uma bateria elétrica projeta a sua energia, ao mesmo tempo que são reno¬vados nela os elementos produtores da mesma.
Quando nos utilizamos da nossa força, falando, escrevendo ou em qualquer outro dos esforços físicos próprios da vida hu¬mana, somos como que pilhas elé tricas positivas.
Quando recebemos forças ou elementos que, segundo a sua qualidade, nos podem causar um dano temporário ou um bem permanente, é que nos colocamos nesta última condição de pi¬lhas elétricas, de qualidade negativa.
Todo mal, de qualquer espécie que seja, só pode ser tem¬porário.
Através de todas as nossas sucessivas existências físicas, o nosso espírito caminha infalivelmente para uma condição ou estado físico em que o bem e a felicidade aumentarão de um modo ilimitado para ele.
Há correntes mentais venenosas, de efeitos tão reais e posi¬tivos como os vapores arsenicais ou as emanações de certos gases e substâncias tóxicas. Se, mantendo-nos em uma condição ne¬gativa, estivermos, durante uma hora que seja, em companhia de alguém, cuja mente esteja sempre repleta de pensamentos de inveja, ciúme, cinismo , maldade, ou se sinta possuído de pro¬fundo desalento, indubitavelmente absorveremos as suas ema¬nações; e elas podem até chegar a produzir-nos uma verdadeira doença, pois a sua ação é tão positiva como a de um gás asfi¬xiante ou a de um vapor mefítico. Esse veneno mental é tanto mais perigoso quanto a sua ação é muito mais sutil do que a
dos venenos materiais e, muitas vezes, só se manifestam oa seus efeitos passados muitos dias, sendo então atribuídos a qualquer outra coisa. Ê importantíssimo para nós conhecermos bem o lugar onde nos encontramos e os elementos mentais que nos
rodeiam.
Especialmente quando nos achamos em estado negativo ou receptivo, somos como uma esponja que, inconscientemente, ab« sorve os elementos que estão ao seu alcance e podem fazer um grande dano temporário ou um bem permanente, tanto ao cor» po quanto à alma.
Durante as horas em que fazemos qualquer exercício, como seja: conservar, escrever, tratar de negócios, dirigir a casa, fa¬zer qualquer trabalho de ordem artística ou não, estamos em estado positivo, isto é, em estado de exteriorizar as nossas pró¬prias forças, às quais damos, desta forma, curso até certo ponto. Se nestas circunstâncias entramos numa loja cheia de fregue¬ses impacientes ou vamos visitar um enfermo, entramos num hospital, tomamos parte numa reunião tumultuosa ou temos uma fatigante entrevista com alguma pessoa antipática ou de génio irascível, convertemo-nos, com relação a todos esses indivíduos e conjeturas, cm elemento negativo ou receptivo, o que nos po¬de trazer muitos dissabores. Somos, então, a esponja que absor¬ve os venenosos elementos mentais desses fregueses que en¬chem a loja, dos germes de todas as doenças que existem no hospital ou, ainda, das emanações mefíticas da pessoa ou pes¬soas, cujo espírito expele qualidades mentais muito abaixo das nossas próprias.
Se, exaustas as nossas energias, por um grande esforço físi¬co ou mental, nos mesclamos com uma multidão de pessoas, cujo ânimo fez decair ou excitar muito qualquer coisa extraor¬dinária, não teremos força para opormo-nos à sua influência perniciosa. Antes, pelo contrário, absorveremos ainda alguns elementos prejudiciais do seu estado mental, apropriando-nos deles, embora por curto espaço de tempo, podemos dizer que lançamos sobre os ombros uma grande carga de chumbo. Se, ainda momentaneamente, absorvemos as suas qualidades men¬tais, em muitas coisas, pensaremos como eles pensam, veremos como eles vêem e sentiremos o maior desalento, até naquilo que dantes nos inspirava inteira confiança. Os nossos próprios planos comerciais e financeiros, que, antes de termos recebido tão fatais influências, nos pareciam exequíveis e de êxito prová¬vel, parecer-nos-ão já irrealizáveis e próprios só de um visionário, sentindo-nos covardes e tímidos ante o que antigamente nos inspirava coragem e valor. Ê possível até que, de decididos e
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expeditos que antes éramos, nos façamos irresolutos e, assim, sob a influência da nossa pusilanimidade e indecisão, digamos coisas e pratiquemos atos que não teríamos dito nem feito, se tivéssemos agido segundo o nosso livre arbítrio, isto é, se ainda fôssemos nós mesmos isentos completamente das perturbações mentais das pessoas que nos têm rodeado.
Por todos esses motivos, a pessoa com quem temos de reunir-nos uma hora mais tarde ou a própria condição mental em que nos achamos ao reunirmo-nos com essa pessoa, pode ser a origem do êxito ou do fracasso da mais importante das nossas empresas, pois que podemos absorver dessa pessoa pen¬samentos ou ideias que alterem os nossos próprios planos, tanto para lhes aumentar as probabilidades de êxito, como para nos levar à mais completa ruína.
Isto sucederá tanto mais quanto mais débil for o nosso estado mental.
Se formos forçados a conviver ou juntarmo-nos com pessoas de uma ordem mental inferior à nossa própria, procuremos fa-zê-Io unicamente quando nos sentirmos mais fortes, física e espiritualmente; e apenas conhecermos que nos fatigamos ou debilitamos em excesso, abandonemos imediatamente a sua ne¬fasta companhia.
Se estamos em pleno vigor e robustez, somos como o pólo positivo do ímã, expelindo os elementos mentais que nos podem prejudicar; se estamos débeis, somos como o pólo negativo que atrai tudo o que se aproxima, sem considerar se tais elementos estão ou não cheios de enfermidade mental ou física. Os ho¬mens positivos são os melhores condutores e os melhores insti¬gadores da Humanidade e os que mais fáceis e seguros êxitos obtêm no mundo. Contudo, não é bom estar sempre numa dis¬posição positiva, porquanto é muito provável que, neste estado, arremessemos para fora de nós muitas ideias que, talvez, nos trouxessem grandes vantagens.
É necessário reservar também algum tempo para o estado mental receptor das forças novas, que mais tarde têm de ser exteriorizadas.
A pessoa que está sempre em estado mental positivo, lutando constantemente contra toda ideia nova que se lhe apresente, até destruí-la, não procurando nunca examinar com atenção e suficiente calma os pensamentos que lhe ocorrem súbita e es¬pontaneamente, e podem, de momento, parecer-lhe extravagan¬tes, extemporâneos ou fora de propósito, julgando sempre que tudo quanto lhe parecer pouco ou nada razoável há de, forço-
sãmente, ser ou parecer também insensato a todo mundo — tal pessoa, digo, por manter sempre em si próprio semelhante condição mental, ficará, afinal, destituída inteiramente de toda força.
Ao contrário, quem está em perene e constante condição mental negativa ou de receptividade, aquele que nunca é a mesma pessoa duas horas consecutivas pelo menos, que incons¬cientemente se desvia do caminho que a si próprio se tinha traçado, por simples influência das pessoas que por acaso en¬contra; se, tendo já de antemão formado um plano ou propósito determinado, deixa que seu espírito seja invadido pelo desalento e o desânimo, só por uma palavra irónica de zombaria ou opo¬sição que lhe seja dirigida, é tal qual um depósito de água, cujo tubo de distribuição é interceptado pelo lodo e o lixo que nele se vão acumulando ou, noutros termos, essas pessoas vão orientando toda a sua capacidade para exteriorizar as próprias forças, conseguindo apenas, deste modo, desastres e insucessos em tudo o que pretenderem.
Como regra geral, deve o homem colocar-se em situação positiva quando tem de tratar de negócios ou assuntos impor¬tantes com outrem, como o lutador tem de fazer ao enfrentar o adversário.
Deve colocar-se em situação negativa, quando se retira do círculo, isto é, no momento em que determina e deseja não to¬mar parte ativa nos negócios.
Estando em luta constante, até mesmo mentalmente, fatiga-mo-nos em excesso e sem utilidade.
Por que se afastava Cristo, com1 tanta frequência, das grandes multidões? Porque, após ter posto em ação, de qualquer forma, o seu imenso poder de concentrarão mental — quer por ter pregado durante muito tempo, quer por ter feito alguma cura milagrosa ou dado qualquer outra prova de grande poder ,até sobre os elementos físicos, em cujas ocasiões estava em situação mental positiva, isto é, na projeção externa de suas forças, co¬nhecendo estar prestes a cair em estado negativo — afastava-se imediatamente das turbas, para não absorver involuntariamente os elementos mentais de ordem inferior.
Se assim não tivesse feito, Cristo teria gasto as suas forças em expulsar todos os elementos mentais, baixos e insalubres da multidão, pois levá-los consigo significa assimilá-los, simpatizar com eles, pensar e sentir de acordo com eles, como pode ter expe¬rimentado cada um de nós. Ao aproximarmo-nos de alguém cujo espírito esteja profundamente atribulado, depois de ter
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ouvido de seus lábios, durante uma hora, a triste narrativa de seus desgostos, dores e amarguras íntimas, podemos bem dizer que ele descarregou sobre os nossos ombros grande parte do pesado fardo dos seus desgostos e atribulações. Simpatizamos com eles, sentimos, como nossos, os seus pesares e, quando nos separamos dele, ainda o seguimos e acompanhamos mental1-mente.
Que sucede neste caso? É que toda a nossa força se em¬
pregou em sentir dor e comiseração pelos desgostos e misérias
desta pessoa, quando, pelo contrario, a poderíamos ter empre¬
gado de forma muito mais proveitosa para nós e para ela própria.
Com certeza um pregador não se porá a puxar vagonetes cheios
de carvão, dentro de uma mina, uma hora antes de começar a
pregar o sermão, só para coadjuvar um pobre trabalhador muito
cansado. Se assim fizesse, o brilho e a força da sua inspiração
ficariam completamente anulados e destruídos na sua maior
parte, em virtude do esforço eiiipregado no penoso e pesadíssimo
trabalho do mineiro. ,
Em compensação, este mesmo orador pode exprimir com tanto vigor certas ideias suas, que faça progredir direta ou in-diretamente os meios para levar o repouso a esse trabalhador fa-tigado e a muitos milhares deles.
Em nossas relações privadas, devemos colocar-nos em estado positivo e refrear o mais possível a corrente de nossas sim¬patias, sempre que nos achemos em presença de pessoas profun¬damente tristes, impressionadas, apreensivas ou aflitas, com o
objetivo de conservar todos os poderes que nos permitam fazer em seu favor tudo quanto for possível.
Em política e no exercício de todas as profissões liberais, os homens que têm vida mais longa e exercem maior influência sobre os homens e os destinos do seu país são precisamente
aqueles que se mantêm mais afastados das massas.
Provém isso de que permanecemos constantemente mescla¬dos com toda classe de pessoas, boas e más, absorvendo as emanações mentais mais variadas, nem sempre, com certeza, de ordem superior, faz-nos desperdiçar a maior parte do nosso po¬der de atraí-las.
Passemos uma ligeira revista à extensão dos mais notá¬veis políticos norte-americanois, mortos na primavera da vida ou pouco mais, durante os últimos vinte anos apenas: Seward, Grant, Morton, Mac-Clellan, Logan, Wilson, Hendricks, Chase, Stanton. A sua falta de cuidado para manter-se em estado po¬sitivo, por ignorarem ao que se expunham, conservando-se em
atmosferas de elementos mentais inferiores, quando estavam em situação negativa — foi um dos mais importantes fatores da sua morte prematura.
Os reis das finanças, como Jay Goud, evitam meter-se na multidão e na barafunda da Bolsa. Passam uma vida relati¬vamente calma e retirada; são de difícil acesso, não recebendo quase ninguém comercialmente; e fazem todas as suas transações por intermédio de agentes, evitando assim pôr-se em contato com atmosferas repletas de elementos mentais de ordem inferior. Procuram manter-se, por assim dizer, dentro de uma fortaleza inexpugnável, na atmosfera mais calma, mais pura e mais límpida que é humanamente possível no mundo dos negócios, c de lá dominam c formam perfeitamente todos os seus planos de ação, pondo-os sempre cm prática com êxito.
Embora incapazes de definir e explicar a lei em virtude da qual agem, sen tem-se compelidos a proceder assim, por uma força oculta ou necessidade, que não poderiam nern saberiam explicar.
É positivamente certo que muitos dos métodos ou meios e caminhos pelos quais muitas pessoas têm conseguido grandes triunfos, em todos os campos do saber ou da atividade humana, têm sido adotados inconscientemente; isto é, foram seguidos em virtude dos inatos conhecimentos das leis que regem o funcio¬namento da inteligência.
Se frequentamos constantemente a companhia de qualquer pessoa, cujas qualidades mentais são inferiores às nossas, isso nos causará indubitavelmente grande dano, mediante a absorção dos seus pensamentos, pois que, certamente, não nos podere¬mos conservar em constante estado positivo, para resistirmos vitoriosamente à fascinação produzida pelo movimento dos seus princípios mentais.
Quando estamos muito cansados por qualquer esforço físico ou mental que tenhamos feito, colocamo-nos em situação nega-(iva, quer isso dizer, em estado de mui fácil receptividade; nes¬tas circunstâncias, agirá a mentalidade alheia c, embora infe¬rior à nossa, ela aluará infalivelmente em nós, obrigando-nos talvez a praticar muitos a tos e a dizer muitas coisas de acordo com os seus pensamentos; coisas e atou que certamente não lei iamos dito nem feito ou tê-lo-íamos dito e feito de modo bem diverso e muito melhor, sem dúvida, se não nos tivéssemos ex¬posto, naqule estado, à absorção desses perniciosos elementos mentais.
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Se qualquer pessoa tiver absorvido os elementos de temor ou indecisão, emitidos por alguém com quem tenha estado em mais ou menos prolongado conta to, pode ter absoluta certeza de que, a despeito da sua vontade e boas intenções, não poderá agir, em seguida, resoluta e decididamente, em qualquer negócio ou questão; terá perdido por completo, ao menos temporariamen¬te, aquela confiança e energia que lhe eram habituais.
Seja embora essa pessoa nosso pai, nossa mãe, esposa, irmão, filho ou amigo sincero, desde que o seu adiantamento mental seja menor do que o nosso e não possa, por consequência, ver as coisas sob o mesmo aspecto que nós a vemos, a sua associ¬ação mental permanente ou temporária causar-nos-á certamente prejuízo neste caso. Podemos, pois, com certeza, padecer até grave dano na nossa saúde ou na nossa bolsa, pela nossa socie¬dade mais ou menos constante com tal classe de indivíduos.
Por essa mesma razão, o apóstolo Paulo aconselhou ao povo que nunca se unissem pelos laços do matrimónio, duas pessoas de condição muito diversa e sentimentos diferentes. Por quê? Porque ele sabia perfeitamente que, de duas pessoas que vivem juntas e estreitamente unidas permanentemente, pertencendo a diversos planos mentais, isto é, com mentalidades diferentes, uma delas há de, necessariamente, receber grande dano da outra, sendo sempre precisamente a mais prejudicada a de mentalidade superior, mais adiantada e elevada, sobre a qual pesam horri¬velmente os elementos que da mentalidade inferior e mais atra-sada ela recebe.
Aquele que se acha em relações, comerciais ou não, com uma pessoa sempre nervosa, excitada, irascível, destituída de toda capacidade para o repouso, impacientando-se por uma ni¬nharia, fazendo tudo às pressas, de manhã até à noite — ain¬da que esteja separado dela por centenas de milhas, se se achar em estado negativo ou de receptividade, indubitavelmente se sentirá influenciado pela mentalidade dessa pessoa. Vê-sc en¬tão forçado a gastar parte das suas próprias forças em repelir energicamente os elementos mentais inferiores emanados da que¬da pessoa, os quais, todavia, terão já conseguido perturbar mais ou menos a sua mente, com prejuízo, muitas vezes, para o pró-prio corpo.
O único meio para se evitar tão funestos resultados, é que¬brar absolutamente todas as relações de amizade ou de interesse com tal espécie de pessoas, o mais rapidamente possível, pro¬curando, por todos os meios, bani-las por completo do pensa¬mento e fixar a nossa mente em qualquer outra coisa ou passa-
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tempo agradável, todas as vezes que a sua imagem surja ante nós ou no nosso espírito.
Sempre que pensarmos nessas pessoas dirijamos para elas um benévola corrente de vida e força, pela qual possam talvez lograr um relativo êxito em algum dos seus negócios, êxito que nós próprios teríamos podido lograr, se não nos tivéssemos des¬pojado de uma parte das nossas próprias forças.
Uma mentalidade inferior só pode apropriar-se de uma parte mínima das forças que se lhe emprestam, ficando o resto delas completamente perdido.
Contudo, essas mentes inferiores podem manter-se, por esta forma, ativas e até prosperar c progredir bastante, se bem que em recompensa do benefício recebido, só podem devolver ao seu benfeitor elementos que trarão a este enfermidade, indolên cia ou ideia inteiramente estéreis.
Uma associação ou sociedade bem igual em elementos men¬tais c um dos mais seguros e melhores meios para se conse¬guir bom êxito, vigorosa e duradoura saúde e uma felicidade per¬manente.
Por associação compreendendo algo de transcendental e muito acima da simples união dos corpos.
Na realidade, estamos sempre mais próximos, em mais es¬treitas e íntimas relações com a pessoa em quem pensamos e cujos pensamentos são idênticos aos nossos, embora esteja se¬parada de nós, do que com aqueles a quem vemos todos os dias, se o seu modo de pensar e sentir for oposto ao nosso.
Se permanecermos muito tempo em conta to ou relações mais ou menos íntimas com uma pessoa de quem absorvemos ele¬mentos mentais inferiores dos nossos, não ficamos completa¬mente livres da influência da sua corrente mental logo depois de termos rompido as nossas relações com ela; continuará ainda durante algum tempo fluindo para nós essa perniciosa corrente, embora muitos centos de milhas separem os nossos corpos físicos, pois que a distância não tem valor algum no mundo invisível do espírito. Enquanto tal pessoa estiver presente à nossa me¬mória, continuará a sua mentalidade influindo sobre a nossa, en-viando-nos os seus grosseiros elementos, de que só nos podem advir prejuízos. O único remédio é aprender a alvidá-la, para podermos subtrair-nos a tão pernicioso influxo. Pode conseguir--se este desejado fim, mas sempre gradualmente. Esquecermos essa pessoa é o mesmo que cortar o invisível fio que nos manti¬nha unidos a ela e através do qual nos mandava os seus malé¬ficos elementos mentais.
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Parecerá a muitos, talvez, tudo isso coisa muito cruel e dura. Se, porém, se meditar um pouco, facilmente se com¬preenderá que nenhum benefício pode resultar para alguém do fato de permanecerem unidas duas mentalidades, quando desta união sair prejudicada uma delas ou talvez ambas ao mesmo tempo; pois é indubitável que, se uma delas se prejudica, tarde ou cedo será prejudicada também a outra.
É sempre a mentalidade superior quem primeiro recebe o maior dano.
Ê devido muitas vezes a isto o fato tão frequente de uma
pessoa de superior inteligência deixar de alcançar a situação ou posição que, por seus méritos, lhe era devida.
Por este mesmo motivo, vêm também, às vezes, as enfer-midades, a perda de vigor físico e mental, a magreza e ainda a falta de habilidade em qualquer ramo do saber ou da ativi-dade humana.
Até mesmo os baixos elementos mentais que outra pessoa nos pode dirigir, uma vez absorvidos e assimilados por nós, podem materializar-se e converter-se em substância física, sob a forma visível, em nosso corpo, de uma excessiva e doentia gordura ou de uma inchação anormal de certos membros ou qualquer outro sinal externo de doença de decadência física.
Assim, o disforme corpo que julgamos ser o nosso, não o é, na verdade, mas sim o de outra pessoa que, pouco a pouco, ano após ano, no-lo transmitiu mentalmente. E como este processo pode ser muito longo, vai-se-nos enfraquecendo gradualmente o espírito, a ponto de o corpo se tomar tão pesado que, por fim, não pode ser mais sustentado por ele e morre... moralmente, pois que cai perdendo a estima de seus amigos e conhecidos — o que, na realidade, é cair-se esmagado por um peso tremendo, que se não pode sustentar por mais tempo.
Até mesmo se, sob estado negativo, lermos um livro que nós desperte o maior interesse, atraindo a nossa simpatia para algum personagem atacado de qualquer enfermidade física ou mental, cuja descrição nos prenda fortemente a atenção, é possível que, destarte, absorvamos também, sob uma forma mais ou menos determinada, alguns elementos da doençça, tão prolixa e cienti¬ficamente descrita nas páginas desse livro.
E, na realidade, um livro é a representação da mente do indivíduo, cuja história nele é narrada; mente que exerce ver¬dadeira influência sobre o leitor e lhe traz os elementos bons ou maus, correspondentes à solução do herói ou da heroína,
elementos estes que, por algum tempo, ao menos, aderem a nossa própria mente, convertendo-se em verdadeiros parasitas.
É, pois, enorme, imenso o dano que podem chegar a sofrer as pessoas extremamente sensíveis com a leitura de histórias verdadeiras ou não, repletas de descrições de doenças físicas ou mentais. Se nesse livro se relata que o personagem por quem sentimos maior interesse foi metido em uma masmorra, onde, durante anos sofreu horrivelmente no corpo e na alma, se nos absorvemos totalmente nessa leitura, podemos dizer que vivemos realmente a própria vida da personagem imaginada. Compenetrados por fim, dia a dia, das aventuras do herói, senti¬remos, sem dúvida, diminuída a nossa vitalidade ou grandes desarranjos na digestão ou em qualquer outra função fisiológica do nosso corpo, sem contudo pensarmos um só momento que tais indisposições proviessem de ter o corpo perdido tão facil¬mente as energias; nem tampouco suspeitaríamos que a dor de cabeça ou debilidade geral que sentimos pudesse provir de uma perturbação mental, em nós produzida por termos vivido espiri¬tualmente nas páginas do livro, achando-nos em estado mental negativo.
Há livros insalubres como há dramas que amam perniciosa¬mente sobre os sentimentos emotivos de muitas pessoas por meio das suas cruéis cenas de horror, vício, miséria e morte.
Milhares de pessoas prejudicam cotidianamente a sua saúde, por se exporem, enquanto estão em condição espiritual nega¬tiva, à atração de tão nocivas correntes mentais, origem de enormes prejuízos, tanto de ordem mental como física.
Enquanto nos alimentamos, devemos procurar colocar-nos em condição mental receptiva, porque ingerimos, então, alimen¬tos materiais para a nutrição do corpo, e se comermos com cal¬ma e sossego, com o espírito tranquilo e em paz, atrairemos ele¬mentos mentais da mesma ordem, tranquilos, pacíficos e bonan¬çosos.
Fazermos as refeições de mau humor ou altercando violenta e desabridamente com alguém, ou pensarmos em negócios, in¬quietações ou quaisquer assuntos mais ou menos graves e afli¬tivos, é pormo-nos em condição mental positiva, quando devería¬mos estar precisamente na negativa.
O mesmo sucederá se trabalharmos em serviços manuais ou braçais, enquanto nos alimentarmos. A disputa, o mau humor, as apreensões e inquietações e ainda o excessivo trabalho físico, gastam as forças de que carecemos para fazer uma boa digestão. Se travarmos discussão ou briga com outras pessoas, seja de viva voz ou mentalmente, o resultado é sempre o mesmo.
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Prejudicar-nos-á também ter à mesma mesa qualquer pessoa que, por ser implicante, antipática, de hábitos grosseiros ou por praticar alguma ação que nos desgoste — sejamos, apesar de tudo, obrigados a suportá-la.
Então, em lugar de nos alegrar e beneficiar, sua companhia nos é sobremaneira desagradável c prejudicial, pois que todo e qualquer sofrimento é um dispêndio da força mental positiva, que o espírito emprega para alijar de si o desgosto, o aborre¬cimento e a dor. A última refeição que se faz no dia, ao findar o trabalho cotidiano, deve ser feita o mais tranquilamente possí¬vel, estando todas as mentes em perfeita harmonia e concor¬dando plenamente em uma aspiração comum, sustentando todos os convivas, prazenteiramente, uma conversação amena, leve e cheia de bom humor ou, pelo menos, graciosa e amável, disposto o paladar a apreciar os mais delicados manjares e deleitados os olhos pelo artístico arranjo e boa disposição da mesa.
Não se deve olvidar que, enquanto estamos em estado men¬tal negativo, absorvemos elementos espirituais e força invisível das pessoas que nos rodeiam ou estão conosco, como elas absor¬vem a energia mental que nós emitimos.
Assim, se fizermos as refeições com outras pessoas numa enxovia ou num Iòbrego subterrâneo ou à mesa de uma família infeliz onde nada mais se ouve do que lamentos pungentes e mútuas e acerbas recriminações ou em alguma baixa e sórdida hospedaria, é certíssimo que esgotaremos todas as nossas forças em resistir a tantas coisas que nos serão desagradáveis, dimi¬nuindo desta forma o nosso poder digestivo e de assimilação dos alimentos; absorveremos também, ao mesmo tempo, em maior ou menor quantidade, os elementos de mau humor ou de profunda desolação de todas as pessoas que nos rodeiam, o que para nós constitui um enorme fardo, não só inútil, mas causador de uma digestão imperfeita e, em consequência, de grandes abati¬mentos, debilidade física e um estado mental irrequieto, sempre apreensivo e irritável.
Mesmo sós e isolados, rodeia-nos sempre uma atmosfera for¬mada por elementos espirituais análogos aos nossos próprios c atrairemos uma corrente mental que pode proceder de perso¬nalidades que simpatizam com a nossa.
É devido a isto que se ilumina, por urna inspiração súbita, a nossa inteligência, em certos momentos de concentração, isola¬mento c retiro solitário. Torna-se, então, para nós, mais agra¬dável meditarmos, embebermo-nos em profundos pensamentos, do que quando estamos em sociedade, embora mesmo em boa
companhia. É porque, em tais ocasiões, vivemos num mundo muito mais elevado do que o que pisam os nossos pés.
Ê possível, porém, mesmo no caso mais favorável, que to¬memos todas estas ideias como pensamentos vãos, sem nos atre¬vermos sequer a expandi-los diante de ninguém.
Reunimo-nos, em seguida, com outros indivíduos cuja com¬panhia nós próprios escolhemos ou nos foi imposta por deter¬minadas circunstâncias. Nesse mesmo instante, é totalmente destruído o nosso mundo ideal, chegando até, muitas vezes, a parecer-nos inteiramente destituído de senso comum. Entramos em sua corrente mental, em sua maneira de ver as coisas e até em sua maneira de falar. Pensamos e sentimos como eles pensam e sentem, censurrando e falando mal dos ausentes, e quando tornamos a ficar sozinhos e voltamos a ser outra vez nós próprios, surge no íntimo da nossa alma, da nossa consciên¬cia, um profundo descontentamento e sentimos uma espécie de autocondenação por tudo o que dissemos e fizemos. Esse des¬contentamento inspira a nossa mentalidade mais elevada, o nosso verdadeiro Eu que protesta contra o dano que lhe causou a parte mais baixa e grosseira da nossa mentalidade.
Quanto mais baixa e grosseira esta for, mais facilmente absorveremos as emanações mentais de ordem inferior, que se produzem ao redor de nós, as quais se converterão, por um lapso de tempo mais ou menos longo, em verdadeiros parasitas da nossa personalidade, É como a hera que se prende à árvore e a envolve toda, desde as raízes até os ramos mais altos, nu-trindo-se da própria árvore e dando-lhe apenas, em troca, ali¬mentos venenosos, chegando até, às vezes, a enlaçá-la de forma a asfixiá-la e matá-la.
Da mesma forma, a mente superior fica subjugada por ou¬tra mentalidade mais grosseira e inferior, verdadeiro parasita, que inconscientemente causa imensos males aos que se lhe as¬sociam ou lhe toleram o domínio.
Quem assim se conduz nunca pode ter iniciativa sua e von¬tade própria; nunca pode ter uma personalidade própria, tal¬vez nem uma única vez a tenha tido, desde a sua primeira exis¬tência, pelo menos não tem sido pessoal na expressão pura¬mente externa. É como a árvore que venenosa hera suplanta e asfixia.
Dirá alguém, sem dúvida: "Mas eu não posso viver exilado, nem deixar de reunir-me a outras pessoas."
Certamente; nem é preciso. Não é para desejar, nem é pro¬veitoso estar sempre só; nem para o homem, nem para a mu-
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lher o isolamenLo absoluto é bom. É muito mais desejável e necessário vigorizarmos a mente com alimentos sãos, proceden¬tes de outras mentalidades, cujos ideais, aspirações e impulsos sejam iguais ou semelhantes aos nossos.
Cortando as nossas relações com aqueles cujas emanações mentais nos prejudicam e danificam, não só evitamos que nos atinja ou se aproxime de nós a corrente mental de suas más qualidades, mas abrimos também a porta para chegarem até nós correntes mentais de outra ordem superior. Iremos atraindo, assim, no mundo físico, aqueles que podem dar-nos, em um determinado momento ou negócio, um auxílio mais seguro e eficaz; pois nenhuma dúvida existe de que a parte mais elevada da nossa mente seja uma força ou laço de união que nos põe em relações com as mais elevadas mentalidades, iguais ou mui¬to semelhantes à nossa.
Esta, porém, não pode exercer prolongada e proveitosamente a sua ação em nós, enquanto permanecermos dominados ou mesmo em íntimas e contínuas relações com mentalidades bai¬xas e atrasadas, porquanto a relação com esta corta o caminho c cerca a porta às mentalidades de ordem superior,
Como adquirir, pois, a necessária força c auxílio que po¬demos tirar de nossas cotidianas relações? Como escolher nossos companheiros e auxiliares? Temos de os ajudar ou eles nos ajudarão? A quem compete reatar as relações, quando estas se quebram ou esfriam?
É certo também sentirmo-nos, muitas vezes, ofendidos ou, pelo menos, molestados por algumas tolices, ditas por algum de nossos amigos, loucuras ou disparates, que milhares de vezes lhe temos ouvido, sem produzirem o mesmo efeito.
Embora não manifestemos verbalmente o nosso desgosto ou aborrecimento, não é certo que o formularemos mentalmente bem nítido e positivo? Não é evidente que a maior parte das sociedades ou associações que procuramos são mais prejudiciais do que proveitosas, sendo aceitas somente por falta de outras melhores?
Podemos estar absolutamente certos de que das associações úteis e verdadeiras nunca nos fatigaremos, pois que, fundando-sc nas mais elevadas regiões da mente, atraem sempre novas ideias e, com essas ideias, nova vida também, que os associados reciprocamente dão uns aos outros.
Nessa região superior brotam as fontes da vida perdurável c et orna. Nela estão os salvadores que unem uma vida à outra vulti, numa uma morte a outra morte, como fazem os entes
humanos, que, dia após dia, ano após ano, pensam, falam e agem rotineiramente, seguindo sempre os caminhos mais trilha¬dos. E a esses que são aplicadas estas terríveis palavras: Deixai que os mortos enterrem os seus mortos.
A verdadeira vida é um estado de variedade infinita que produz, se abrirmos a nossa mente à verdadeira direção, man¬tendo nela aberta uma inesgotável associação com outras men¬talidades semelhantes à nossa, as quais mútua e constantemente dão e recebem umas das outras os vigoriza dores elementos de uma perpetua juventude.
A fonte da juventude, da juventude eterna, é uma realidade espiritual que, como muitas outras coisas, tem agora sido consi¬derada como mera fantasia, por haver-se erroneamente buscado e querido achar no plano da vida física ou material.
A fonte da juventude infinita, da juventude do corpo e da juventude do espírito consiste em saber alcançar voluntariamente essa condição mental, na qual a mente se coloca em estado positivo, quando há de repelir toda classe de pensamentos baixos, grosseiros ou maldosos, e em estado negativo ou receptivo para as correntes mentais superiores e construtivas. Convém também sobremodo sentirmo-nos cheios de valor, livres de qualquer espé¬cie de receio ou temor, não julgarmos nada impossível, não odiarmos ou amaldiçoarmos ninguém, nem sentir desprezo, a não ser pelo erro e a mentira; devemos amar a todos como ir¬mãos, porém não prodigalizar em excesso a amizade e a pró¬pria simpatia, senão muito sensata e parcimoniosamente.
Prentice Mulford.
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