Porque as abelhas são importantes
Dizem que uma vez Albert Einstein fez esta afirmação:
Se um dia as abelhas desaparecessem, o homem teria apenas quatro anos de vida
Em verdade o físico nunca disse algo de parecido com isto (a atribuição é uma invenção de 1994), mas o raciocínio atrás desta afirmação é certamente válido, pelo menos em princípio: nada mais de abelhas, nada de polinização, nada mais de fruta, legume (não todos mas a maioria), resultando numa espiral descendente, cujo limite máximo reside só na imaginação de todos.
Que as abelhas estejam a morrer é um facto amplamente reconhecido há muitos anos. Que as responsabilidades desta praga sejam dos telemóveis (com uma frequência perturbadora), dos OMG, do aquecimento global ou duma franja de fanáticos da Al-Qaeda, isso ainda não sabemos.
Mas é bom não esquecer o problema e ficar actualizados.
A seguir as últimas novidades dos Estados Unidos e da Grã Bretanha, onde o problema é mais agudo. O relato é da jornalista Alison Benjamin, do britânico Guardian.
Receios para as culturas: os números-choques da América ilustram a tragédia das abelhas.
Perturbadoras evidências de que as abelhas estão em sério declínio surgiram a partir dos Estados Unidos, onde, pelo quarto ano consecutivo, mais de um terço das colónias não conseguiram sobreviver ao inverno.
O declínio dos cerca de 2,4 milhões de colmeias no País começou em 2006, quando um fenómeno chamado Colony Collapse Disorder (CCD) levou ao desaparecimento de centenas de milhares de colónias. Desde então, mais de três milhões de colónias nos Estados Unidos e de bilhões de abelhas em todo o mundo morreram, e os cientistas não podem entender o que está a causar essa queda catastrófica.
O número de colónias de abelhas geridas nos Estados Unidos diminuí 33,8% no último inverno, segundo uma pesquisa anual da América Bee Inspectors e do Agricolture Research Service (ARS) do governo EUA.
O colapso em todo o mundo das populações de abelhas é uma séria ameaça para as culturas. Estima-se que um terço de tudo o que comemos depende da polinização por abelhas, o que significa que as abelhas contribuem 26 bilhões de Esterlinas para a economia global.
As possíveis causas são os parasitas, como o ácaro Varroa, as infecções bacterianas e virais, os pesticidas, a desnutrição decorrente das práticas agrícolas intensivas. O desaparecimento de tantas colónias também foi definida como "Síndrome de Maria Celeste" por causa da falta de abelhas mortas em muitas das colmeias vazias.
Cientistas norte-americanos descobriram 121 pesticidas diferentes nas amostras de pólen e cera de abelha, o que leva a crer que os pesticidas são uma questão fundamental. "Achamos que algumas internações subtis entre nutrição, exposição a pesticidas e outros agentes convergem para matar as colónias", disse Jeffery Pettis, do laboratório de pesquisa da ARS.
Uma ampla revisão de abelhas mortas feita pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) reportou na semana passada que não há uma causa única, mas apontou o dedo ao "uso irresponsável" de pesticidas que podem danificar o saúde das abelhas e torna-las mais vulneráveis às doenças. Bernard Vallat, director geral da OIE, advertiu: "As abelhas contribuem para a segurança alimentar global e extinção biológica seria um desastre terrível."
Dave Hackenberg, o apicultor da Pensilvânia quem primeiro deu o alarme sobre a CCD, disse que no ano passado foi ainda pior, com 62% das suas 2.600 colmeias a morrer entre Maio de 2009 e Abril de 2010. "Está ficando pior", disse ele. "A pesquisa AIA não fornece a imagem completa porque estima só as perdas durante o inverno. No Verão as abelhas estão expostas a muitos pesticidas. Os agricultores costumam mistura-los e ninguém tem ideia dos efeitos que isso poderia levar."
Pettis concorda que as perdas em algumas actividades comerciais são cerca de 50% ou mais. "Perdas constantes desta magnitude não são economicamente viáveis para os apicultores comerciais", disse, acrescentando que uma solução poderia estar longe no tempo. "Olhem para o AIDS, têm bilhões de dólares investidos na pesquisa e ainda nenhuma cura. A pesquisa leva tempo e as colmeias são organismos complexos".
No Reino Unido é ainda demasiado cedo para avaliar como cerca de 250.000 colônias de abelhas britânicas se saíram durante o longo inverno. Tim Lovett, presidente da Associação Britânica de Apicultores, relata: "De acordo com as observações, a situação é extremamente variável. Há relatos de alguns apicultores que estão perdendo quase um terço das colmeias enquanto outros nem sofrem perdas." Os resultados de uma pesquisa entre os 15.000 membros da associação são esperados ainda para este mês.
John Chapple, presidente da Associação de Apicultores de Londres, calcula a perda dos 150 membros entre um quinto e um quarto. Oito das 36 colmeias em toda a capital não sobreviverá. "Há ainda muitos desaparecimentos misteriosos", disse. "Não estamos mais perto de saber qual a causa."
Apicultores escoceses relataram perdas nos últimos três anos ao mesmo nível dos EUA.. Andrew Scarlett, um apicultor em Perthshire, perdeu 80% das próprias 1,2 mil colmeias este inverno. Mas atribuiu essa queda a uma infecção bacteriana virulenta que espalhou-se rapidamente, devido à falta de controle, juntamente com o mau tempo que impediu as abelhas de produzir quantidades suficientes de pólen e néctar.
A governativa National Bee Unit sempre negou a existência duma CCD na Grã-Bretanha, apesar do 20% de perda durante o inverno de 2008-09 e de quase um terço no ano passado. Atribui o desaparecimento ao ácaro Varroa - que é encontrado em quase todas as colmeias Reino Unido - e aos Verões chuvosos que param a pesquisa de comida das abelhas.
Num relatório do ano passado, o National Audit Office sugeriu que os apicultores amadores, que não reconheceram as doenças das abelhas, possam ser uma ameaça para a sobrevivência das abelhas e pediu à National Bee Unit para efectuar mais inspecções e treinar mais os agricultores. No Verão passado alguns deputados pediram ao governo para financiar uma pesquisa mais aprofundada do que foi chamado de "declínio alarmante das abelhas.
O Departamento de Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais tem contribuído com 2.500.000 de Esterlinas num fundo de 10 milhões de Libras para a pesquisa sobre os polinizadores. A Comissão de Contas Públicas pediu que uma parte significativa desses fundos fossem usados exclusivamente na pesquisa sobre as abelhas.
Decisões sobre quais projetos de pesquisa deverão ser promovidas este mês.
Porque as abelhas são importantes
As plantas com flores exigem insectos para a polinização. A mais eficaz nesta tarefa é a abelha que poliniza 90 culturas comerciais no mundo. Além da maior parte das frutas e legumes - incluindo maçãs, laranjas, morangos, cebolas e cenouras -, poliniza as nozes e o girassol. Café, soja, trevo - como a alfafa, que é usada para a alimentação dos animal - e mesmo o algodão são dependentes das abelhas para a polinização.
Só no Reino Unido, a valor da polinização das abelhas é estimado em 200 milhões de libras. Durante séculos, o homem conseguiu gerir e transportar as abelhas para polinizar e produzir o mel, adoçante natural e conservante. A extinção das abelhas significaria não apenas uma dieta incolor e sem carne, sem cereais, sem arroz e roupas sem algodão, mas uma paisagem sem pomares, jardins e campos de flores silvestres - e o colapso da cadeia alimentar, que apoia as aves selvagens e os animais.
Fonte: The Guardian
Publicada por Max em 15:16
0 comentários Etiquetas: abelhas, ambiente, EUA, Grã Bretanha
quinta-feira, 27 de maio de 2010
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