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segunda-feira, 11 de abril de 2011

MEDICINA FAZ MAL À SAÚDE?

MEDICINA FAZ MAL À SAÚDE?

Por Sérgio Gwercman

"Os médicos estão entre as três maiores causas de morte atualmente" Um selo colado na testa advertindo sobre os perigos que podem causar à saúde.

Se dependesse do inglês Vernon Coleman, esse seria o uniforme ideal dos médicos. Dono de um diploma em medicina e um doutorado em ciências, Coleman abandonou a carreira após dez anos de trabalho para ganhar a vida escrevendo livros com títulos sugestivos do tipo Como Impedir o seu Médico de o Matar.

Autor de 95 livros, o inglês é um auto-intitulado defensor dos direitos dos pacientes. Em seus textos, publicados nos principais jornais do Reino Unido, costuma atacar a indústria farmacêutica - para ele, a grande financiadora da decadência - e, principalmente, os médicos que recusam tratamentos que excluam a utilização de remédios e cirurgias. Dono de opiniões polêmicas, Coleman ainda afirma que 90% das doenças poderiam ser curadas sem a ajuda de qualquer droga e que quanto mais a tecnologia se desenvolve, pior fica a qualidade dos diagnósticos.

Como um médico deve se comportar para oferecer o melhor tratamento possível a seu paciente? Os médicos deveriam ver seus pacientes como membros da família. Infelizmente, isso não acontece.. Eles olham os pacientes e pensam o quão rápido podem se livrar deles, ou como fazer mais dinheiro com aquele caso. Prescrevem remédios desnecessários e fazem cirurgias dispensáveis.

Ao lado do câncer e dos problemas de coração, os médicos estão entre os três maiores causadores de mortes atualmente. Os pacientes deveriam aprender a ser céticos com essa profissão. E os governos, obrigá-los a usar um selo na testa dizendo "Atenção: este médico pode fazer mal para sua saúde". Qual a instrução que pacientes recebem sobre os riscos dos tratamentos? A maior parte das pessoas desconhece a existência de efeitos colaterais. E grande parte dos médicos não conhece os problemas que os remédios podem causar.


Desde os anos 70 eu venho defendendo a introdução de um sistema internacional de monitoramento de medicamentos, para que os médicos sejam informados quando seus companheiros de outros países detectarem problemas. Espantosamente, esse sistema não existe. Se você imagina que, quando uma droga é retirada do mercado em um país, outros tomam ações parecidas, está errado. Um remédio que foi proibido nos Estados Unidos e na França demorou mais de cinco anos para sair de circulação no Reino Unido. Somente quando os pacientes souberem do lado ruim dos remédios é que poderão tomar decisões racionais sobre utilizá-los ou não em seustratamentos. Você considera que os médicos são bem informados a respeito dos remédios que receitam a seus pacientes? A maior parte das informações que eles recebem vem da companhia que vende o produto, que obviamente está interessada em promover virtudes e esconder defeitos.

Como resultado dessa ignorância, quatro de cada dez pacientes que recebem uma receita sofrem efeitos colaterais sensíveis, severos ou até letais. Creio que uma das principais razões para a epidemia internacional de doenças induzidas por remédios é a ganância das grandes
empresas farmacêuticas. Elas fazem fortunas fabricando e vendendo remédios, com margens de lucro que deixam a indústria bélica internacional parecendo caridade de igreja. E o que os pacientes deveriam fazer? Enfrentar doenças sem tomar remédios? É perfeitamente possível vencer problemas de saúde sem utilizar remédios.

Cerca de 90% das doenças melhoram sem tratamento, apenas por meio do processo natural de autocura do corpo.. Problemas no coração podem ser tratados (não apenas prevenidos) com uma combinação de dieta, exercíciose controle do estresse. São técnicas que precisam do acompanhamento de um médico. Mas não de remédios. Receber remédios não é o que os pacientes querem quando vão ao médico? É verdade que muitos pacientes esperam receber medicamentos. Isso acontece porque eles têm falsas
idéias sobre a eficiência e a segurança das drogas.

É muito mais fácil terminar uma consulta entregando uma receita, mas isso não quer dizer que é a coisa certa a ser feita. Os médicos deveriam educar os pacientes e prescrever medicamentos apenas quando eles são essenciais, úteis e capazes de fazer mais bem do que mal. Que problemas
os remédios causam? Sonolência, enjôos, dores de cabeça, problemas de pele, indigestão, confusão, alucinações, tremores, desmaios, depressão, chiados no ouvido e disfunções sexuais como frigidez e impotência.

Em um artigo, você cita três greves de médicos (em Israel, em 1973, e na Colômbia e em Los Angeles , em 1976) e diz que elas causaram redução na taxa de mortalidade. Como a ausência de médicos pode diminuir o risco à vida? Hospitais não
são bons lugares para os pacientes. É preciso estar muito saudável para sobreviver a um deles.. Se os médicos não matarem o doente com remédios e cirurgias desnecessárias, uma infecção o fará. Sempre que os médicos entram em greve as taxas de mortalidade caem. Isso diz tudo. Muitas pessoas optam por terapias alternativas. Esse é um bom caminho?
Em diversas partes do mundo, cada vez mais gente procura práticas alternativas em vez de médicos ortodoxos.
De certa maneira, isso quer dizer que a medicina alternativa está se tornando a nova ortodoxia. O problema é que, por causa da recusa das autoridades em cooperar com essas técnicas, muitas vezes é possível trabalhar como terapeuta complementar sem ter o treinamento adequado. Medicina alternativa não é
necessariamente melhor ou pior que a medicina ortodoxa.

O melhor remédio é aquele que funciona para o paciente. Em um de seus livros, você afirma que a tecnologia piorou a qualidade dos diagnósticos. A lógica não diz que deveria ter acontecido o contrário? Testes são freqüentemente incorretos, mas os médicos aprenderam a acreditar nas máquinas. Quando eu era um jovem doutor, na década de 70, os médicos mais velhos apostavam na própria intuição. Conheci alguns que
não sabiam nada sobre exames laboratoriais ou aparelhos de raio X e mesmo assim faziam diagnósticos perfeitos. Hoje, os médicos se baseiam em máquinas e testes sofisticados e cometem muito mais erros que antigamente. Você faz ferrenha oposição aos testes médicos realizados com animais em laboratórios.


De que outra maneira novas drogas poderiam ser desenvolvidas? Faz muito mais sentido testar novas drogas em pedaços de tecidos humanos que num rato. Os resultados são mais confiáveis. Mas a indústria não gosta desses testes porque muitos medicamentos potencialmente perigosos para o homem seriam jogados fora e nunca poderiam ser comercializados.

Qual o sentido de testar em animais? Existe uma lista de produtos que causam câncer nos bichos, mas são vendidos normalmente para o uso humano. Só as empresas farmacêuticas ganham com um sistema como esse..

O que você faz para cuidar da saúde? Eu raramente tomo remédios. Para me manter saudável, evito comer carne, não fumo, tento não ficar acima do peso e faço exercícios físicos leves. Para proteger minha pressão, desligo a televisão quando médicos aparecem na tela apresentando uma nova e maravilhosa droga contra depressão, câncer ou artrite que tem cura garantida, é absolutamente segura e não tem efeitos colaterais.
























OUTRA COLOCAÇÃO






*ENTREVISTA* H. GILBERT WELCH

*Quem deseja buscar saúde não deve procurar doenças*
*MÉDICO ALERTA PARA EXCESSO DE DIAGNÓSTICOS E RISCOS DA "EPIDEMIA" DE EXAMES
PREVENTIVOS*
Mark Washburn/Divulgação
*DÉBORA MISMETTI*
EDITORA-ASSISTENTE DE *SAÚDE*

Doenças devem ser detectadas o quanto antes, para que haja sucesso no tratamento, certo? Não, segundo o médico americano H. Gilbert Welch. O especialista em clínica
médica é autor de "Overdiagnosed", recém-lançado nos Estados Unidos. No livro, Welch, pesquisador da Universidade Dartmouth, afirma que a epidemia de exames preventivos, ou "screening", como são chamados nos EUA, coloca a população em perigo mais do que salva vidas. Citando pesquisas, ele mostra evidências de que muita gente está recebendo "sobrediagnóstico": são tratadas por doenças que nunca chegariam a incomodá-las, mas que são detectadas nos testes preventivos. "O jeito mais rápido de ter câncer? Fazendo exame para detectar câncer", disse ele à *Folha*, por telefone.

*Folha - Como exames preventivos podem fazer mal? H. Gilbert Welch* - A
prevenção tem dois lados. Um é a promoção da saúde. É o que sua avó dizia: "Vá brincar lá fora, coma frutas, não fume". Mas a prevenção entrou no modelo médico, virou procurar coisas erradas em gente saudável, virou detecção precoce de doenças. Isso faz mal. Não estou dizendo que as pessoas nunca devem ir ao médico quando estão bem. Mas a detecção precoce também
pode causar danos.

*De que maneira isso ocorre?*
Quando procuramos muito algo de errado, vamos acabar achando, porque quase todos temos algo errado. Os médicos não sabem quais anormalidades vão ter conseqüências sérias, então tratam todas. E todo tratamento tem efeitos
colaterais. Há um conjunto de males que podem decorrer de um diagnóstico: ansiedade por ouvir que há algo errado, chateação de ter que ir de novo ao médico, fazer mais exames, lidar com convênio, efeitos colaterais de remédios, complicações cirúrgicas e até a morte. Para quem está doente, esses problemas não são nada perto dos benefícios do tratamento. Mas é muito difícil para um médico fazer uma pessoa sadia se sentir melhor. No entanto, não é difícil fazê-la se sentir pior.

*Os médicos dizem que a detecção precoce é essencial no caso do câncer. Mas você diz que é perigoso. Não se deve tratar qualquer tumor inicial?* Não. Se formos tratar todos os cânceres quando estão começando, vamos tratar todo o mundo. Todos nós, conforme envelhecemos, abrigamos formas iniciais de
câncer. Se investigarmos exaustivamente vamos achar câncer de tireoide, mama e próstata em quase todos. A resposta não pode ser tratar todos e nem tratar todo mundo. Ninguém mais ia ter tireóide, mamas ou próstata. Câncer de próstata é o símbolo dessa questão.

*Por quê?*
Há 20 anos, um teste de sangue foi introduzido para detectar câncer de próstata. Vinte anos depois, 1 milhão de americanos foram tratados por causa de um tumor que nunca chegaria a incomodá-los. Esse teste é o PSA [antígeno prostático específico]. Muitos homens têm números anormais de PSA. Eles
fazem biópsias e muitos têm cânceres microscópicos e fazem tratamento, o que não é mero detalhe. Pode ser retirada da próstata ou radioterapia. Isso leva, em um terço dos homens, a problemas sexuais, urinários ou intestinais. Alguns até morrem na operação. Não podemos continuar supondo que buscar a
saúde é procurar doenças.

*Qual é o impacto desses testes de próstata na população?*
Um estudo europeu mostrou que é necessário fazer exames preventivos de PSA em mil homens entre os 50 e 70 anos, por dez anos, para evitar a morte por câncer de uma pessoa. É bom ajudar uma pessoa. Mas precisamos prestar atenção às outras 999. Por causa desses exames, de 30 a 100 homens são tratados sem necessidade. As pessoas precisam refletir. Cada mulher pode decidir se quer fazer mamografia todo ano. Mas temo que estejamos coagindo, assustando e incutindo
culpa nelas, para que façam mamografias.

*Mas a detecção precoce não é o fator que mais reduz a mortalidade de câncer de mama?*
Na verdade, não. Os esforços mais relevantes no câncer de mama vêm detratamentos melhores, como quimioterapia e hormônios. Os avanços notratamento nos últimos 20 anos reduziram a mortalidade em 50%.O problema é se adiantar aos sintomas. Não há dúvida de que uma mulher que percebe um caroço deva fazer uma mamografia. Isso não é teste preventivo, é exame diagnóstico. Claro que os médicos preferem ver uma mulher com um pequeno nódulo no seio do que esperar até que ela desenvolva uma grande massa. A questão não é entre atendimento cedo ou tarde, mas entre buscar atendimento logo que você fica doente e procurar doenças em quem não tem
nada.

*Critérios usados em exames como de pressão e diabetes estão mais rígidos.
Estão deixando todo mundo 'doente'?* Sim. Somos muito tirânicos sobre saúde. O que é saúde? Se formos medicalizar
a definição de saúde, seria: "Não conseguimos achar nada errado". A pressão está abaixo de 12 por 8, o colesterol está abaixo de tal valor, fizemos uma tomografia e não há nada de errado. Se essa virar a definição de saúde,pouquíssimas pessoas serão saudáveis. É certo tachar a maioria como doente?
Saúde é muito mais do que a ausência de anormalidades físicas.

*Por que essa conduta está se tornando dominante?*
Os médicos recebem mais para fazer mais, o que ajuda a alimentar o círculo vicioso da detecção precoce. É um bom jeito de recrutar mais pacientes, de vender mais remédios ou exames. Nos EUA, há os problemas de ordem legal. Os advogados processam os médicos por falta de diagnóstico, mas não há punições para sobrediagnóstico. E tem quem creia realmente na detecção precoce. Nunca se diz que há perigo nisso. Pacientes diagnosticados com câncer de próstata e mama por detecção
precoce têm muito mais risco de serem sobrediagnosticados do que ajudados pelo teste. Quando você ouve histórias de sobreviventes de câncer, na maioria das vezes o paciente acha que sua vida foi salva porque ele fez um exame preventivo.

*E isso não é verdade?*
Ele tem mais chance de ter sido tratado sem necessidade. Histórias de sobreviventes geram mais entusiasmo por testes e levam mais pessoas a procurar doenças, gerando sobrediagnóstico.

*O que fazer para evitar isso?*
Um paciente nunca vai saber se recebeu um sobrediagnóstico. Nem o médico sabe. Não é preciso decidir para sempre se você vai ou não fazer exames. Mas todos os dias novos testes são criados. É preciso ter um ceticismo saudável sobre isso.
daqui:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd2003201101.htm

http://www.matrice.wordpress.com/>

E MAIS:

No artigo do New York Times:

http://www.nytimes.com/2009/10/27/health/27canc.html?_r=1&em


E MAIS NOS LIVROS

La Mafia Médicale – Guylaine Lancôt, M.D., Québec, 1994, Édition: Voici La Clef Inc.

White Coat Black Hat – Carl Elliott. Boston, 2010, Beacon Press books.

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