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domingo, 11 de maio de 2008

Homocisteina: O NOVATO DO BANDO

SEIS - Homocisteína: O Novato do Bando

VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DE HOMOCISTEÍNA? OU, MELHOR AINDA, SEU MÉDICO JÁ LHE recomendou um exame de sangue para verificar seu nível de homocisteína? Provavelmente não. Depois de ler este capítulo, garanto que você se perguntará por quê. Pouca gente já ouviu falar dessa substância, e um número ainda menor sabe que ela é uma ameaça tão grande quanto o colesterol no que se refere a doenças cardiovasculares.
Estima-se que o mero nível elevado de homocisteína no sangue seja responsável hoje por aproximadamente 15% de todos os ataques cardíacos e AVC’s no mundo - o que significa 225 mil ataques cardíacos e 24 mil derrames por ano nos Estados Unidos. Além disso, há 9 milhões de pessoas com doenças cardiovasculares decorrentes de níveis elevados de homocisteína. Não preciso dizer que creio ser muito importante conhecermos mais sobre essa terrível assassina, especialmente quando se sabe que é possível corrigi-Ia pela mera ingestão de suplementos de vitamina B.

O Que É Homocisteína?

A história das pesquisas sobre homocisteína é fascinante, e começa com a carreira do dr. Kilmer McCully. Um promissor patologista e pesquisador, graduado na Faculdade de Medicina de Harvard em meados da década de 1960, o de. McCully estudou a ligação da bioquímica com as moléstias. Sua reputação era alta, e ele logo alcançou posições de prestígio como patologista associado do Hospital Geral de Massachusetts e como professor assistente de patologia na Faculdade de Medicina de Harvard.
No início de sua carreira, o dr. McCully teve particular interesse por uma doença chamada homocistinúria. Ela se manifestava em crianças com um defeito genético que as impedia de romper um aminoácido essencial chamado metionina. Essas crianças apresentavam uma grande aglomeração de um subproduto chamado homocisteína. McCully avaliou dois casos separados envolvendo meninos que, possuindo tal deficiência, morreram de ataque cardíaco. Era algo impressionante, já que os dois tinham menos de 8 anos de idade. Ao examinar as peças anatomopatológicas das artérias desses meninos, ele descobriu que seu aspecto era semelhante ao de uma pessoa idosa com grave espessamento de artérias. Isso levou o dr. McCully a cogitar se elevações mínimas ou moderadas de homocisteína persistindo por toda a vida não poderiam ser uma causa de ataques cardíacos e derrames nos pacientes em geral.
Como vimos no caso dos dois meninos, a homocisteína é um subproduto intermediário que produzimos quando nosso corpo metaboliza (quebra) um aminoácido essencial chamado metionina. A metionina existe em grandes quantidades na carne bovina, nos ovos, no leite, no queijo, na farinha branca, em comida enlatada e em alimentos altamente processados. Apesar de necessitarmos de metionina para sobreviver, há um consumo enorme desse nutriente nos Estados Unidos, como pode ser visto nessa lista de alimentos em que ele é encontrado; alimentos, aliás, que fazem parte da dieta da maior parte da população norte-americana. Nosso corpo normalmente converte a homocisteína em cisteína ou a transforma novamente em metionina.
A cisteína e a metionina são produtos benignos, não sendo nocivos de maneira alguma. Mas eis o nó da questão: as enzimas necessárias para romper a homocisteína em cisteína ou revertê-Ia em metionina precisam de ácido fólico, vitamina B12 e vitamina B6 para cumprirem sua função. Se tivermos deficiência de tais nutrientes, os níveis de homocisteína no sangue começam a subir.
Então, por que não ouvimos falar disso antes? Voltemos ao dr. Kilmer McCully.

A Coisa Certa - O Momento Errado

McCully publicou sua teoria sobre a homocisteína em diversos jornais médicos no fim dos anos 60 e início dos 70, sendo, a princípio, saudado com grande entusiasmo. O dr. Benjamin Castle, chefe de seu departamento, o apoiou plenamente, expondo seu trabalho a um prestigioso conselho de especialistas. Mas, em meados da década de 1970, a teoria da homocisteína perdera muito de seu impulso.
O dr. Castle aposentou-se, e o novo chefe de departamento disse a McCully que procurasse seu próprio fundo de pesquisas ou se demitisse. Seu laboratório foi transferido para o porão. McCully lutou longamente e com muito empenho, mas acabou ficando sem tempo e sem dinheiro: em 1979 o novo chefe de departamento informou-o de que a universidade o estava dispensando, uma vez que sua teoria sobre a homocisteína e as doenças do coração ainda não tinham sido provadas.
Como os cargos de McCully na Faculdade de Medicina de Harvard e no Hospital Geral de Massachusetts estavam associados, ele perdeu os dois em janeiro de 1979. Um antigo colega de classe de Harvard, então diretor do centro de arteriosclerose do MIT, designou as idéias de McCully como "absurdos berrantes" e "uma fraude infligida ao público". Em pouco tempo, o diretor de relações públicas do Hospital Geral de Massachusetts pediu ao dr. McCully que não associasse suas teorias sobre a homocisteína com o hospital ou com Harvard. McCully foi expelido de vez.
O dr. Kilmer McCully estava certamente adiante de seu tempo. Mas por que tanta hostilidade para com um homem que só estava tentando descobrir a causa subjacente da principal assassina do mundo de hoje? Qual o motivo para tanto pessimismo e tamanhos ataques verbais? Poderiam as caríssimas pesquisas sobre colesterol na época ser a razão?
Naquela época, a teoria sobre os ataques cardíacos por colesterol vinha ganhando grande impulso, e a hipótese de Kilmer McCully desafiava abertamente seu futuro.
O dr. Thomas James, cardiologista, presidente da Divisão Médica da Universidade do Texas e da American Heart Association (Associação Americana do Coração) em 1979 e 1980, disse: "Não se podia obter patrocínio para idéias que seguissem em direções opostas à do colesterol. Havia um desencorajamento intencional a seguir questões alternativas. Nunca lidei com nenhum assunto em minha vida que gerasse reações tão imediatamente hostis".
Com todas as teorias opostas silenciadas, a do colesterol avançou a passos largos. As companhias farmacêuticas começaram a ganhar seus bilhões, e todos se convenceram de que os ataques cardíacos e derrames eram simplesmente o resultado de colesterol em demasia na corrente sangüínea. Você concorda que eles fizeram um bom trabalho vendendo essa idéia para a comunidade médica e o público em geral?

Interesse Renovado na Homocisteína

Em 1990 o dr. Meir Stampfer revitalizou o interesse na teoria do dr. McCully sobre a homocisteína. Professor de epidemiologia e nutrição na Faculdade de Saúde Pública de Harvard, Stampfer analisou os níveis sangüíneos de homocisteína de 15 mil médicos envolvidos em um estudo de saúde. Ele declarou que mesmo níveis ligeiramente elevados relacionavam-se diretamente a um risco maior de desenvolvimento de doenças do coração. Os indivíduos com os níveis mais elevados de homocisteína corriam um risco três vezes maior de sofrer ataque cardíaco do que aqueles com os menores níveis. Esse foi o primeiro grande estudo a demonstrar a possibilidade de a homocisteína ser um fator independente de risco de doenças do coração.
Em fevereiro de 1995 o dr. Jacob Selhub também declarou, no New England Journal ofMedicine, que níveis elevados de homocisteína no plasma relacionavam-se diretamente ao maior risco de estenose das artérias carótidas (a obstrução progressiva das duas principais artérias que conduzem sangue ao cérebro). Além disso, Selhub notou que a maioria dos pacientes com níveis elevados de homocisteína também possuíam níveis reduzidos de ácido fólico e vitaminas B12 e B6 em seus corpos.
Outro grande estudo de caso-controle, o European Concerted Action Project, indicou que, quanto mais alto o nível de homocisteína, maior o risco de ataque cardíaco. O que outrora se consideravam níveis normais de homocisteína foram vistos, de súbito, como níveis altamente perigosos.
De maior importância ainda para os pesquisadores foi o fato de que, quando encontravam níveis elevados de homocisteína em pacientes que também possuíam outros grandes fatores de risco (hipertensão, colesterol elevado ou hábito de fumar), o risco de doenças vasculares aumentava dramaticamente. Os resultados desses exames clínicos proporcionaram evidências de que, quanto menor nosso nível de homocisteína, melhor.
De uma hora para outra, os pesquisadores admitiam como fato que a homocisteína era realmente um fator de risco independente de doenças cardiovasculares. Mesmo inveterados defensores do colesterol, como Claude L'enfant, diretor do National Heart, Lung and Blood Institute (Instituto Nacional do Coração, dos Pulmões e do Sangue, nos Estados Unidos), disseram: "Ainda que o risco da homocisteína elevada não esteja totalmente demonstrado, é uma área extremamente importante de pesquisa". Hoje a evidência médica é incontestável: a homocisteína pode ajudar a causar doença arterial coronariana, AVC’s e doenças vasculares periféricas.

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